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Unicamp: Sobrevivendo No Inferno - Curso Etapa

Sobrevivendo No Inferno - Curso Etapa

Sobrevivendo No Inferno - Curso Etapa

Autor: Racionais MC's

Movimento literário: Álbum Musical - Gênero: Rap

No final da década de 1980, no Capão Redondo, periferia de São Paulo, surgiu o quarteto de rap Racionais MC’s formado pelos vocalistas Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock e pelo DJ KL Jay. Após alcançar renome na cena hip-hop paulistana em polêmicas apresentações, o grupo atingiu fama nacional com o álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997.  

A capa e a contracapa do disco trazem ícones religiosos: na imagem frontal, o vermelho das letras (“Racionais MC’s”) remete a sangue, e, biblicamente, a vida – algo reforçado pela figura da cruz; na contracapa, uma representação da violência iminente, com o destaque para uma pistola sendo empunhada. Essas imagens resumem a principal temática das letras do álbum: o embate e a convivência entre a fé e a violência.  

Sobrevivendo no Inferno apresenta 12 faixas, dentre elas dez canções, uma declamação de um depoimento e uma música instrumental.  

Desde a faixa de abertura, e ao longo de toda a obra, a cultura negra é reverenciada, seja por referências a orixás e outros traços de religiões de matrizes africanas, seja por elementos da cultura black experienciados nas regiões menos atendidas de São Paulo. O sincretismo religioso (sobretudo da Umbanda com o Catolicismo) é também uma marca recorrente nas letras das canções.  

Bem ao gosto do estilo rap, sobressai no disco o caráter crítico, que ganha o tom de denúncia social ao analisar a condição marginalizada do negro. Os sujeitos poéticos das canções representam (ou contam sobre) indivíduos socialmente excluídos que tentam achar meios de se manterem vivos e de se sustentarem, envoltos nos desfavorecimentos da periferia, que é seu inferno. Para isso, ora apelam à violência, ora se defendem dela; ora buscam amparo religioso, ora criticam figuras consideradas sagradas.  

As mensagens do disco flutuam entre um tom de crônica amena – tentando buscar uma “fórmula mágica da paz” ou querendo encontrar refúgio no “mundo mágico de Oz” – e um tom de denúncia da desigualdade aguda, ao analisar a realidade periférica mais cruel e pungente, como em “Capítulo 4, versículo 3” e, principalmente, em “Diário de um detento”. Esta, o registro coletivo dos presidiários da extinta Casa de Detenção de São Paulo (o “Carandiru”), alcançou as rádios da época, mesmo tratando de um assunto tão espinhoso: a desumanidade cotidiana da vida no presídio e o “Massacre do Carandiru”, como ficou conhecido o episódio do assassinato dos 111 detentos por ordem da Secretaria de Segurança Pública, em uma rebelião interna, em outubro de 1992.  

Sobrevivendo no Inferno se revela um manifesto político e social, que ressalta a dureza do cotidiano com que convive o negro residente na periferia ou advindo dela. Impressões pessoais da realidade mais brutal e chocante convivem com certas nuances de leveza permeadas de religiosidade, esperança, paz e representatividade da população pobre e negra – esses elementos contribuem para o tom de denúncia moral e social que o álbum consegue transmitir ao ouvinte.