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Unicamp: Morangos Mofados

Morangos Mofados

Morangos Mofados

Autor: Caio Fernando Abreu

Movimento literário: Pós-Modernismo - Gênero: conto contemporâneo.

Autor: Nascido em 1948 no Rio Grande do Sul, pertence a uma geração que começa a escrever em meio ao autoritarismo dos anos 70. Incorporando elementos da chamada contracultura, Caio Fernando Abreu desenvolve uma voz autoral, marcada pelo experimentalismo formal e pela introspecção.

Movimento literário: Pós-Modernismo (Conto contemporâneo).

Estilo: Experimentando dicções, estilos diferentes – ora mais disruptivo e hermético, com ousadias na pontuação e efeitos de paralelismo, ora mais convencional, apostando em uma elocução ao mesmo tempo lírica e sufocante –, Caio Fernando Abreu recorre frequentemente ao fluxo de pensamento e ao discurso indireto livre, técnicas que reforçam o aspecto intimista e confessional de suas histórias. As numerosas epígrafes, subtítulos e dedicatórias compõem uma teia de alusões que se materializam, no texto dos contos, em referências à literatura, à música, ao cinema, à filosofia e à astrologia, entre outras manifestações culturais.

Foco narrativo: Nos contos iniciais do livro – afora “Diálogo”, composto apenas por falas – o foco narrativo em primeira pessoa favorece o mergulho no drama existencial, enquanto nas histórias da segunda parte prevalece o distanciamento da terceira pessoa, o que permite colocar em perspectiva as angústias dos personagens. Mesmo em “Pera, uva ou maçã?”, narrado por um psicanalista, o deslocamento do ponto de vista é assegurado pelo olhar “de fora” para os dramas da paciente.

Morangos mofados (1982): Publicado entre o marco da Lei da Anistia (1979) e a redemocratização formal do país (1985), Morangos mofados é frequentemente lido como o retrato de uma geração que, tendo vivido os tempos sombrios do regime militar, começava timidamente a vislumbrar uma superação do autoritarismo. A ambiguidade está demonstrada na estruturação interna do livro, dividido em três partes: “O mofo”, que representa a pulsão de morte (associada à violência, ao desengano e à solidão); “Os morangos”, que simboliza a pulsão de vida (associada ao desejo, ao sonho e à possibilidade de encontro); e “Morangos mofados”, que sugere o caráter indissociável dos dois elementos. Entre os temas principais da obra está a sensação de incomunicabilidade, ainda mais intensa nos contos da primeira parte. Pontuadas por elementos do cotidiano, que caracterizam a atmosfera cultural de seu tempo, as histórias transitam por assuntos como a sexualidade, o medo, a morte, a solidão, a relação com o ambiente urbano e a condição fragmentada do indivíduo na contemporaneidade.

Contos: 

“Diálogo”

Conto de abertura, apresenta – em formato teatral – o diálogo truncado e repetitivo entre dois personagens, identificados como “A” e “B”. A discussão gira em torno do termo “companheiro”, que costura as dimensões política e afetiva. A indicação ao final sugere que a incompreensão entre os dois se estenderia indefinidamente.

“Além do ponto”

Escrito em parágrafo único, com uma cadência poética construída à base de repetições, reiterações e rimas internas, o conto narra – em primeira pessoa – a história de um homem que cruza a cidade a pé, sob a chuva, a caminho da casa de outro homem. Não se conhece a identidade dos personagens, cujo encontro não se concretiza. O desfecho apresenta o narrador batendo insistentemente à porta sem ser atendido: “eu” e “outro” constituem polos inconciliáveis.

“Terça-feira gorda”

Em um baile de terça-feira de Carnaval, em um ambiente regado a drogas e bebidas, dois homens iniciam um jogo de sedução. Deixam o salão em direção à praia, onde se entregam ao amor sob as estrelas. Vítimas de insultos homofóbicos, são perseguidos e espancados por um grupo raivoso de homens.

“Pera, uva ou maçã?”

Narrado em primeira pessoa por um psicanalista, relata uma sessão de terapia com uma paciente, que apresenta um quadro de profunda melancolia. Entediado, o analista consulta no relógio os minutos que restam para o fim do encontro. O relato de um acontecimento marcante para a moça dá margem a interpretações de natureza simbólica, algo que o analista parece ignorar por conta da lógica empresarial que rege os seus atendimentos.

“O dia que Júpiter encontrou Saturno”

A oposição entre os planetas Júpiter e Saturno é a chave para compreender a relação de complementaridade estabelecida entre os dois personagens da história: uma moça e um rapaz que se encontram casualmente em um sábado à noite, em São Paulo, durante uma festa. Engajam-se em um diálogo fragmentado, entremeado por silêncios, que passeia por temas como a astrologia, as drogas, as viagens, o amor e a morte. A conversa revela perfis opostos, mas que encontram nessa oposição uma profunda afinidade de espírito. A intimidade culmina no beijo que precede a despedida, acalentada pela convicção de que seria natural “as pessoas se encontrarem e se perderem”.

“Aqueles dois”

Narra, em terceira pessoa, a relação entre dois colegas de repartição próximos dos trinta anos. Raul e Saul pouco a pouco vão descobrindo suas afinidades, seu companheirismo e – finalmente – seu amor. Destaque para o jogo de complementaridade dos personagens, a reforçar a ideia de uma “estranha e secreta harmonia”. Denunciados ao chefe por um “guardião da moral”, são demitidos, mas sua demonstração de altivez reluz sobre a “mediocridade” dos autores da violência homofóbica, condenados à infelicidade.