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Fuvest: Poemas Escolhidos
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Autor: Gregório de Matos
Movimento literário: Barroco, século XVII
• Estética: O Barroco surge no contexto da Contrarreforma, período marcado por uma reação da Igreja Católica perante os avanços da Reforma Protestante. Na literatura, foi muito difundido na península Ibérica e teve como gêneros predominantes a oratória religiosa e a poesia sacra. O Barroco brasileiro iniciou-se em 1600, com a poesia de Bento Teixeira, percorreu o século XVII e somente em meados do século XVIII perdeu o vigor, tendo a publicação de Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768, dado início ao Arcadismo. Em um Brasil essencialmente nordestino, o Barroco foi marcado pelo retorno das pessoas mais cultas que iam para Portugal estudar e voltavam com influências do estilo que vigorava por lá. Teve como mais importantes representantes padre Antônio Vieira, na oratória, e Gregório de Matos, na poesia. Tanto Vieira quanto Gregório de Matos adequaram suas obras à realidade brasileira.
• Poeta: Gregório de Matos é considerado o primeiro grande poeta do Brasil. Autor de verve fácil, tem preferência por sonetos, embora em sua poesia constem diversos tipos de composição, incluindo os jogos verbo-visuais que se tornaram comuns no gosto barroco. Sua poesia é comumente dividida em três partes: composições líricas, satíricas e sacras. Deve-se lembrar de que o autor é um dos primeiros poetas a utilizar os elementos brasileiros e também a se adequar à paisagem nacional. Sua poesia satírica, pela qual foi alcunhado de Boca do Inferno, constitui uma rica fonte documental sobre o homem e a sociedade de sua época. Influenciado pelos mestres espanhóis do período - Góngora, Quevedo, Calderón de la Barca -, teve poemas que circularam manuscritos e foram compilados e publicados somente por iniciativa da Academia Brasileira de Letras no século XX. Existem dúvidas se toda a produção tida como dele é realmente de sua autoria.
Composições sacras: O poeta, enquanto representante do Barroco, acredita em um Deus perfeito e se submete a ele como pecador; no entanto, sabe-se falível e, muitas vezes, reincide nos mesmos erros. São grandes exemplos de poesia sacra "A Jesus Cristo nosso Senhor" e "Buscando a Cristo".
Exemplo:
Atos de arrependimento e suspiros de amor
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha a vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido,
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus!
Composições líricas
As composições líricas de Gregório de Matos podem ser subdivididas em:
• Poesia de reflexão filosófica e acerca da natureza: preocupação com a efemeridade da vida e das coisas: "A instabilidade das coisas no mundo", "Inconstância dos bens do mundo", "Desenganos da vida metaforicamente", "Expressão do silêncio do poeta", "Impaciência do poeta", "Nasce o sol e não dura mais que um dia", "Na confusão do mais horrendo dia".
• Poesia lírico-amorosa: declaração feita a uma mulher considerada superior, endeusada e equiparada a figuras míticas. Geralmente o amor não é correspondido, daí a contemplação da mulher como deusa ou anjo que vem a ser motivo do amor devoto e espiritual. Algumas vezes, no entanto, o sujeito lírico sente-se atraído fisicamente pela mulher, compondo versos mais ousados. Há uma série de poemas dedicados às mulheres que o impressionaram, como Dona Ângela. Alguns poemas: "A formosura de Dona Ângela", "Expressão de amor, mandando perguntar como passava", "Declara-se temendo perder por ousado", "Chora o poeta por perdidas esperanças de conseguir Ângela como esposa", "A Maria dos povos, sua futura esposa", "A uma dama" etc.
Exemplo:
Na confusão do mais horrendo dia,
Painel da noite em tempestade brava,
O fogo com o ar se embaraçava
Da terra e água o ser se confundia.
Bramava o mar, o vento embravecia,
Em noite o dia enfim se equivocava,
E com estrondo horrível, que assombrava,
A terra se abalava e estremecia.
Lá desde o alto aos côncavos rochedos,
Cá desde o centro aos altos obeliscos,
Houve temor nas nuvens, e penedos.
Pois dava o Céu ameaçando riscos
Com assombros, com pasmos, e com medos
Relâmpagos, trovões, raios, coriscos.
À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores,
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.
Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia,
Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.
Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.
Composições satíricas
Os poemas satíricos tecem considerações críticas à sociedade baiana, desde os mais abastados membros até as camadas menos privilegiadas, retratando as contradições sociais e a realidade local. Registram-se os costumes, as festas, a política, os favores, enfim, há um panorama da vida em uma sociedade que está se firmando e vive seus percalços. Não raro, o poeta utiliza uma linguagem ferina e não poupa palavras consideradas de baixo calão.
Algumas das mais importantes produções poéticas de Gregório de Matos estão disponíveis em sites da internet.
Exemplo:
Senhora dona Bahia
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
e é que, quem o dinheiro nos arranca,
nos arranca as mãos, a língua, os olhos.
Esta mãe universal,
esta célebre Bahia,
que a seus peitos toma, e cria,
os que enjeita Portugal
Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero das culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar
por quem de mim não tem mágoa?
verdades direi como água
porque todos entendais,
os ladinos e os boçais,
a Musa praguejadora.
Entendeis-me agora?