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Unicamp: O Marinheiro - Curso Etapa
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Autor: Fernando Pessoa
Movimento literário: Modernismo Português; Gênero: teatro
Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1935), Foi inventor da heteronímia, que compõe parte expressiva de sua obra, considerada como uma das ideias literárias mais relevantes do século XX. A peça O Marinheiro – drama estático em um quadro saiu originalmente em 1915 no primeiro número da revista vanguardista Orpheu, marco do modernismo português.
A peça se inicia em uma torre circular de um castelo antigo com quatro tochas aos cantos em que três mulheres velam o corpo de uma donzela vestida de branco, ao centro do cenário. Não há indicação de espaço ou tempo. Há uma janela voltada para um espaço de mar. O quadro acontece de noite, com um “resto vago de luar”, criando-se um clima misterioso, naturalmente simbólico, a partir desta cenografia.
Dessa concepção cênica decorre um diálogo entre as veladoras que vai até o raiar do dia. O diálogo é construído pela espera das veladoras, espera de um acontecimento que simplesmente não vem, por meio de frases alegóricas, como a fala inicial: “Ainda não deu hora nenhuma”, criando níveis de leitura para a peça. Um deles, de se notar, seria a notação política, a partir da afirmação da segunda veladora: “Todo este país é muito triste”, que assume um contorno referencial à crise cultural portuguesa, potência do século XV e XVI, que se torna, em um país marcado pela derrocada econômica e política, principalmente depois do Domínio Espanhol (1580-1640).
Nesse espaço de imobilidade, a segunda veladora relata um sonho que tivera com um marinheiro de terras distantes, que não consegue voltar para a própria pátria. Logo, diante dessa dificuldade, o marinheiro sonha ter vivido em uma pátria imaginada, e, ao tentar relembrar a verdadeira pátria de nascença, já não o consegue mais, ficando preso no próprio sonho. Desse modo, a pátria do marinheiro torna-se a pátria do sonho. A conclusão de que tudo é sonho faz com que as veladoras se diluam em uma única voz – pura linguagem – em que a própria consciência das personagens é dissolvida, sugerindo uma quinta pessoa na torre, que pode ser, em um viés metalinguístico, o próprio autor que dirige a fala e comanda, como uma força invisível, um sonho dentro de outro.
Por meio dessas ideias, possibilita-se a leitura da impotência humana, o ser humano como títere do desconhecido, propiciando um recorte existencial que beira o desespero e sinaliza o horror como instância última da peça.
Esse “teatro estático” encerra uma polissemia importante: por um lado, estático significa sem ação ou sem movimento; por outro, aponta para a ideia de êxtase, em um estado para fora de si, de natureza mística. É comum, portanto, no que se refere a essa vertente misteriosa, a associação com o Simbolismo, movimento literário que teve muita força no final do século XIX e que seguiu influenciando as primeiras décadas do século XX.