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Fuvest: Dois Irmãos
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Autor: Milton Hatoum
Movimento literário: Literatura brasileira contemporânea
Autor: Milton Hatoum (Manaus, 1957), romancista, tradutor, professor universitário e cronista.
Movimento Literário: Literatura brasileira contemporânea.
Obra: Dois irmãos (2000) é um dos mais premiados romances da literatura brasileira contemporânea. A obra, publicada pelo autor após um intervalo de onze anos desde o lançamento de Relato de um certo Oriente (1989), retoma um motivo temático recorrente na tradição da literatura universal, as figuras dos gêmeos antípodas. Tal tema já rendera à literatura brasileira o clássico Esaú e Jacó, romance de Machado de Assis, de 1904. Em Dois irmãos, o mais velho, Yaqub, e o caçula, Omar, são o cerne de um drama que se alastra por sobre todos os entes da família de Zana e Halim, os pais (imigrantes de origem libanesa), estendendo-se ainda pelo quente e úmido espaço da cidade portuária de Manaus, no tempo flutuante e inexato do “rio negro” da memória. A estratégia do uso de referências dicotômicas perpassa toda a construção da obra. Está na ambivalência entre passado e presente, fluxo da memória que conduz a narrativa – o que também desemboca na antítese de realidade e imaginação –; na origem do núcleo familiar: imigrantes oriundos do Oriente em busca de outra vida no Ocidente; nas oposições entre selva e cidade, casa e quintal, público e privado, o indivíduo e o coletivo, entre outras. E também na feição constitutiva da personalidade dos gêmeos: um mais racional, introspectivo; o outro emotivo, libertino, louco. A busca da completude, da compreensão sobre si, abarca ainda a metáfora do espelho (outra menção ao duplo) e remete ao mito de Narciso, na dimensão psicanalítica da obra.
Características:
Tempo: a obra abarca um período da história do Brasil que vai das primeiras décadas do século XX, momento em que Manaus já sentia a decadência do Ciclo da Borracha, e se estende até a década de 1960, com o Golpe Militar de 1964 e o processo de revitalização da capital amazonense com a criação da Zona Franca de Manaus (1967). Na narrativa, entretanto, tal tempo não segue a linearidade, acompanhando as idas e vindas da memória do narrador.
Espaço: Manaus, a capital do estado do Amazonas, porto às margens do rio Negro, onde este se encontra com o Solimões para formar o rio mais caudaloso do planeta.
Personagens principais:
- Yaqub: gêmeo mais velho; preterido pela mãe, passa alguns anos no Líbano, no exílio. Contido, tem talento para a Matemática.
- Omar: o “Caçula”, o “Peludinho”, é o gêmeo mais novo. Preferido de Zana, leva vida ociosa e boêmia.
- Halim: imigrante libanês, mascate (posteriormente, comerciante), é pai dos gêmeos. Nutre uma paixão luxuriosa pela esposa.
- Zana: matriarca da família, mulher altiva e bela. Dedica um afeto aos filhos, em especial a Omar, o preferido.
- Domingas: indígena, órfã, foi retirada de sua aldeia após a morte do pai, passando a servir como empregada na casa de Halim e Zana. Mora no quarto dos fundos.
- Nael: filho bastardo de Domingas com um dos gêmeos, é o narrador do romance.
- Rânia: irmã dos gêmeos, filha de Zana e Halim.
- Galib: pai de Zana.
Importância da obra: Dois irmãos é uma das mais significativas obras da ficção contemporânea em língua portuguesa. As diversas premiações obtidas pelo autor (como o Prêmio Jabuti de 2001), as muitas traduções e a adaptação televisiva comprovam tal afirmação. Seu valor essencial está no manuseio cuidadosamente elaborado das técnicas de narrativa, condução do enredo e amálgama entre as diversas estruturas inerentes ao gênero romance. Tal amálgama, que funde estilística e semanticamente forma e conteúdo, resulta em polissemias, gerando inúmeras possibilidades de leitura.