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Fuvest: Angústia

Angústia

Angústia

Autor: Graciliano Ramos

Movimento literário: Modernismo (2ª geração/1930-1945)

• Estilo: seco e, até certo ponto, econômico. Frases curtas, proximidade com a oralidade, poucos adjetivos, palavras organizadas na medida certa para dar conta do universo caótico do personagem e exploração da técnica do fluxo de consciência. Como se encontrava na prisão, Graciliano não exerceu sobre essa obra as revisões costumeiras. Por isso, muitas vezes, há um turbilhão de palavras, o que não ocorre em outras obras do autor, mas que não lhe tira os méritos. Trata-se de uma das mais penetrantes análises do psicológico de uma personagem que acumula toda a angústia existencial, o mal do século XX. Dentro do panorama do existencialismo de Sartre, que pode ser resumido no aforismo "O inferno são os outros", Graciliano sintetiza o universo psicológico atormentado de um personagem-narrador, fragmentado entre a realidade deformada, que ele expõe por meio da subjetividade, e a realidade objetiva, representada por uma sociedade mergulhada na estagnação, que é descrita com alguns toques de Naturalismo. O leitor mergulha na alucinação do protagonista, que sensibiliza o que descreve e revela em tudo sua deformação psicológica.

• Estrutura: escrita em primeira pessoa, a obra entremeia aspectos do passado de um mundo decaído do personagem, cuja retomada é feita pela memória por meio de flashbacks. Como o leitor conhece somente o que se passa na mente do protagonista, por meio do que ele escreve, não tem perfeita consciência da veracidade dos fatos narrados - daí estar frente a um narrador não confiável, do qual é possível desconfiar até mesmo da ocorrência real do homicídio que ele diz ter acontecido e praticado. Graciliano Ramos faz uso de recursos como a metalinguagem, o monólogo interior na construção das sequências narrativas introspectivas, e os flashbacks para recompor a desordem mental do protagonista.

Personagens

• Luís Pereira da Silva: frustrado, deprimido, tímido, solitário e impotente diante da realidade que o cerca ou que ele imagina o cercar. Sente crescer cada vez mais um sentimento de degradação em relação ao ambiente e às pessoas à sua volta, culminando com Julião Tavares, seu rival e por quem sente um profundo repúdio. Sua angústia cresce no transcorrer das ações que o circundam, até chegar às vias de total aniquilamento moral e social. Cresce nele a necessidade de desforra e de vingança, a ponto de premeditar e cometer um ato criminoso. É a partir desse episódio que o narrador começa a contar sua história.

• Julião Tavares: filho de um rico comerciante, galanteador, respeitado pela sociedade que o cerca; tem suas conquistas - que não raro geram abortos clandestinos - encobertas pelo poder financeiro do pai. Provoca asco em Luís da Silva, pelo fato de ser pegajoso e ter "voz pastosa".

• Marina: moça pobre, vaidosa, fútil, tem sonhos mais altos que sua condição social e deixa-se levar facilmente pela lábia de Julião Tavares, embora ainda estivesse ligada a Luís da Silva. Depois de ficar grávida do amante, é abandonada e comete aborto.

• Moisés: um dos poucos amigos de Luís da Silva; judeu, trabalhava com um tio e encontrava no amigo um de seus interlocutores. Tem ideias comunistas e, por causa disso, é perseguido.

• Trajano: avô de Luís da Silva, evocado pelas recordações do neto. Entrou em decadência, mas fora senhor de engenho respeitado. Casado com sinhá Germana.

• Camilo Pereira da Silva: pai de Luís, herdeiro da decadência, indolente e sem perspectivas.

• Lobisomem: velho, de hábitos reclusos e mal falado pela vizinhança, largamente acusado de abusar de suas três filhas.

• Dona Adélia e Seu Ramalho: pais de Marina, deixam-se levar por Julião Tavares, atraídos pelos presentes que ele lhes trazia e pelas necessidades por que passavam.

• Dona Mercedes: tem um amante rico e provoca inveja em Marina, que a toma como modelo.

Enredo

Luís da Silva, personagem-narrador, descende de uma família de senhores de terra e de escravos que foi à falência - reflexo das profundas transformações pelas quais passou a vida rural brasileira no final do século XIX: o açúcar dos engenhos deixou de ser o motor da economia e a indústria açucareira foi redimensionada pela modernização das usinas, modelo de produção mais arrojado e rendoso. Luís vai à cidade e torna-se um reles funcionário público que pretende algum dia publicar algo que já tem engavetado, resultado de suas investidas literárias. Morador de um subúrbio pobre, feio e sujo em Maceió, busca em Marina, sua vizinha de "cabelos de fogo", uma compensação para sua timidez e para a profunda lacuna social que se faz presente em sua vida. Luís projeta na noiva seus anseios. Por meio de uma narrativa densa e coroada de profundo subjetivismo, expõe a tensão que toma conta de sua existência e revela os subterrâneos de seu ego dilacerado. No entanto, Marina é uma moça inconsequente e não entende as necessidades e a vida difícil de seu noivo, que desembolsa todas as suas economias para a compra do enxoval - as quais, no fim, são gastas por ela com alguns poucos itens totalmente dispensáveis. Marina é uma moça direcionada pelos seus sonhos, que pretende viver sem problemas financeiros, almejando uma vida muito acima de sua realidade, espelhada no modelo de uma vizinha - Dona Mercedes - que é sustentada por um amante abastado. Surge, nesse contexto, a figura de Julião Tavares: homem rico, conquistador e bem posto na sociedade, que vai se aproximando de Marina gradativamente e toma o lugar de Luís da Silva, conquistando sua noiva. Marina se entrega a Julião, fica grávida e quem toma para si a vingança é o ex-noivo, que busca no homicídio do rival sua vingança pessoal e uma forma de se livrar de seus fantasmas e alucinações. Após a morte de Julião Tavares, Luís é acometido por uma profunda crise existencial que o levará ao fundo do poço, do qual emerge para escrever seu relato após trinta dias de profunda crise.